Pobre menina rica

Trono do Crisântemo é o nome comum dado ao trono Imperial do Japão. E até o término da 2ª Guerra Mundial o imperador e sua família, com mais de 2.000 anos de história, não poderiam ser olhados pelo homem comum, que estavam proibidos também de falar com eles pois o imperador era tido como descendente direto do deus sol Amaterasu. Hoje, o imperador pode ser visto em feiras livres, gosta de pescar, é um pesquisador do meio ambiente.

Na Inglaterra, o Príncipe William derrete-se pelo seu bebezinho e revela que o herdeiro tem dificuldade para dormir.

Esta aproximação da realeza com o povo acontece nos palácios mundo afora e, apesar de ser uma notícia antiga, gostaria de entender a razão de Sua Alteza Real, a nossa Rainha dos Baixinhos, proibir que sua filha seja fotografada durante a realização de um evento público, esportivo e aberto a todos.

Para quem não sabe: o Minas Tênis Clube, agremiação tradicional de Belo Horizonte, promoveu na semana passada a 9ª Copa Minas Feminina de Vôlei. As atletas que participam da Copa Minas aproveitam o torneio para mostrar serviço e lutar por um futuro no esporte, com direito a pensar em um dia defender a Seleção. Entre os clubes participantes, a equipe infanto juvenil do Flamengo tem entre as suas atletas a “Princesa Sasha”.

No dia da abertura do evento dois seguranças de Sasha agrediram um fotógrafo do Jornal Estado de Minas que cobria a competição. Danificaram o seu equipamento e ele fica dez dias afastado do trabalho por causa de lesões em sua coluna. Isto aconteceu quando o fotógrafo se recusou a apagar as fotos da sua câmera porque, segundo os seguranças, isto devia ser feito uma vez que a mãe dela não autoriza que façam fotos da filha.

Criada nesta redoma, fico pensando se um dia ela andou descalça na enxurrada, ouviu histórias da avó, exibiu orgulhosa o vestido que herdou da prima mais velha, furou o traseiro no escorregador, levou pão com goiabada de merenda na escola, fez guerra de travesseiro com uma amiga, brincou com bolo de barro, ficou escondida atrás da porta com medo da bronca da mãe, teve dor de barriga porque comeu doce quente, brincou de boca de forno ou telefone sem fio, batatinha frita ou chicotinho queimado? Fez barquinho de papel, sabe o que é adoleta, fez xixi agachada atrás da moita, espalhou farinha de trigo pela casa, se escondeu dentro do armário, teve que lavar a boca com sabão para aprender a não falar palavrão, mordeu o rabo do cachorro, pintou o gato de verde, tocou a campainha da casa vizinha e saiu correndo, mexeu em caixa de marimbondo com uma vassoura, teve piolho no cabelo? Tirou meleca do nariz e experimentou para ver qual o gosto, cortou a franja onde estava colado um chiclete, prendeu vaga-lume em um vidro, viu feijão crescendo em um pedaço de algodão molhado, comeu bolo com bicarbonato em parada de ônibus nas estradas?

A personalidade de uma criança vai se formando de acordo com as experiências que ela vivencia dentro do âmbito familiar. Com as brincadeiras e travessuras as crianças desenvolvem a criatividade, sua habilidade para mudar o futuro e vivem situações que enriquecem a sua sociabilidade. Se tornam adultos confiantes pois o brincar potencia o seu desenvolvimento.

São coisas assim que fazem a delícia da vida e que não podem ser compradas com dinheiro.