Tratado como mês, com início e fim, espremido entre março e maio num calendário, abril é uma mentira.
Não à toa, começa, “oficialmente”, num Primeiro de Abril, e encerra os trabalhos às vésperas de um Primeiro de Maio.
Abril é tudo, menos um mês, desses com trinta dias, dias úteis, sábados, domingos, feriados.
É uma circunstância, um ânimo, uma descarga de serotonina.
É abril quando todas as manhãs são manhãs de domingo, e as tardes caem como nas canções de bossa nova.
É abril quando se respira como se o ar tivesse sido inventado agora.
É abril quando a vida pulsa aqui, não lá fora.
Abril começa quando o sol se cansa de ser calor e se permite ser só luz.
E termina quando é preciso fechar a janela para dormir, quando é preciso fechar os olhos para sonhar, quando o corpo já não se aquece por si.
Após cada chuva de março o céu já se pinta de abril.
E é ainda abril quando, em maio, cada hora inventa outro azul.
Por isso abril é o mais cruel dos meses – pode durar um instante, pode nunca existir.
“Germina lilases da terra morta, mistura memória e desejo.”
Abril dura tanto quanto uma paixão.
Pode começar no Carnaval e morrer na quarta-feira, ou se estender até São João.
Ou durar a vida inteira – por que não?
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