domingo, 13 de maio de 2012

O que aprendi com a minha mãe



Minha mãe nunca gostou de festas do Dia das Mães nos colégios. Sempre dizia: "não gosto desta imagem de mãe sofredora, pois parece que ser mãe é sempre um sacrifício". Para ela ser mãe era fonte de alegria e prazer. Esta foi a primeira lição que dela recebi: a vida deve ser feita de felicidade.

Com ela aprendi a observar o que estava à minha volta para perceber e olhar o novo. “Se você vai entrar em uma loja para comprar uma linha, peça o que deseja à vendedora. E olhe ao seu redor, pois tem sempre alguma coisa diferente que pode lhe interessar...”. Assim, aprendi com ela a observar, a saber dos outros e pude me conhecer melhor. Aprendi a olhar ao redor e ver beleza.

Com ela aprendi a ser forte e a sustentar situações difíceis. E também que é preciso chorar para superar o que tiver que ser superado.

Com minha mãe aprendi que a elegância é essencial (confesso que nunca dominei esta lição). Sempre foi uma bela mulher, tratada como rainha pelo meu pai. Admirada pela sociedade, sabia traduzir esta elegância nos gestos, nas roupas, no tom de voz. Hoje ela diz que gostaria de ter aprendido a gargalhar como eu faço e não apenas sorrir, como era mais educado fazer.

Desde cedo, fui acostumada a freqüentar salões de cabeleireiro (para domar os cabelos rebeldes) e onde fosse tinha que sempre estar bem vestida. Da camisola de batizado que ela mesmo bordou às roupas de anjo para a coroação do mês de Maria ou as fantasias dos bailes de carnaval sempre eram uma escolha da minha mãe. Quando vejo a foto da minha primeira comunhão eu fico a pensar que este foi o primeiro “mico” da minha vida: todos os alunos estão usando o uniforme da escola e somente eu, no centro, estou de vestido branco, ricamente bordado em azul claro.

Assim foi ao longo do tempo. Baile de debutantes, aniversários das amigas ou o dia do casamento. Anos mais tarde, adulta e morando distante, o carteiro entregava uma caixa e dentro uma roupa escolhida por ela. Sempre acertava. E fez isto com as netas. Já mandou um funcionário em uma viagem de 300 km para levar o vestido da neta “porque mandando pelos correios pode amassar...”.

Ensinou-me a ser prática. Em uma época sem internet e o uso do telefone dependia do auxílio de uma telefonista ela sempre escreveu cartas. Os cinco filhos moravam fora e como os assuntos eram os mesmos ela usava papel carbono e uma cópia ia para cada um de nós.

Meu pai, homem das antigas, reclamou uma única vez do valor conta de telefone. E ela respondeu “não tem problema, eu trabalho e posso pagar a conta. Mas daqui em diante eu passo a vender para você as notícias dos filhos... Tenho uma notícia que vale $$. Quer comprar?” Nunca mais soube qual era o valor de alguma conta da casa. Quando o meu pai faleceu e nós mostramos para ela quais eram as despesas, ficou assustada. E demorou meses para ficar tranqüila e saber que não teria que “apertar os cintos” e que o meu pai continuava a sustentar a casa, com a pensão que deixou.

Foi professora e ocupou nos últimos anos a função de diretora de escola, em uma comunidade carente. Deste tempo tenho as lembranças das festas beneficentes que organizava. Antes do desfile no dia da pátria os alunos passavam pela nossa casa para comer um sanduíche e tomar um suco porque ela tinha medo que a longa espera os deixaria com fome. Assim, ela nos ensinou a ser generosos.

Sempre tivemos uma relação muito especial. Não sou a filha predileta, mas é comigo que ela sempre conversou mais. Pede opinião. Quer saber o que penso. Confia em mim. Hoje ajudo a cuidar dela. E vou repetindo os mesmos gestos, os mesmos cuidados que teve comigo. Hoje vejo como o seu exemplo sempre me influenciou.

E agradeço porque posso devolver o que sempre recebi



Atualizando: não tive filhos e hoje, na eleição de mãe do ano, meu marido levou o troféu. Participaram da eleição: minha mãe, irmãs, cunhados, sobrinhos...

6 comentários:

Leninha Brandão disse...

Minha querida Beatriz,

Em primeiro lugar,o meu abraço para você e para esta Rainha tão mãe que você tem ao seu lado...
Pois é,minha amiga,as nossas Màes nos criaram para sermos princesas,não em título,pois isto não é importante,mas em generosidade,ética,simplicidade,elegância e alegria de viver...a essência da vida nos foi ensinada com carinho,ternura e algumas palmadas de quando em quando.
Teu texto me emocionou,amiga.Lindo e escrito com o coração.Parabéns!
Bjssssssss,
Leninha

maristela disse...

Que lindo o texto e a história da relação sua com sua mãe. Legal você dizer também "que não é a filha predileta". Eu também sei que não sou a predileta da minha mãe e as vezes isso me entristece um pouco. Vou assumir como você.
Bjs

Tina Bau Couto disse...

Gostei de td que vc escreveu, da imagem e qt a eleição e o eleito achei fantástico.
Beijos pra tds vcs :)

simplesmentefascinante disse...

bom dia Beatriz,
que linda visão você passou de sua mãe e que bom que você a tem por perto pra poder retribuir esse amor todo.
Cuide bem dela como ela cuidou de todos.
bjão e que nossa segunda seja iluminada e cheia de ternura que foi o sentimento que me inspirou seu texto.
Mari

mollymell disse...

Que bela narrativa Beatriz. Sempre fico fascinada pela maneira como voce escreve, uma leitura gostosa, cativante, que a gente nao quer que chegue o fim.
Um grande beijo pra voces duas.

ps.: parabens ao seu marido pelo premio conquistado :)

Dani Pissardo disse...

Bom dia Beatriz!
Primeira vez que passo pelo seu blog e me identifiquei muito com o amor pelos pássaros e pelo texto descrito acima com tanto capricho!
Graça!
Gostei!
um abraço,
Daniela