sexta-feira, 31 de março de 2017

Abril


"Abril começa oficialmente amanhã.

Tratado como mês, com início e fim, espremido entre março e maio num calendário, abril é uma mentira.

Não à toa, começa, “oficialmente”, num Primeiro de Abril, e encerra os trabalhos às vésperas de um Primeiro de Maio.

Abril é tudo, menos um mês, desses com trinta dias, dias úteis, sábados, domingos, feriados.

É uma circunstância, um ânimo, uma descarga de serotonina.

É abril quando todas as manhãs são manhãs de domingo, e as tardes caem como nas canções de bossa nova.

É abril quando se respira como se o ar tivesse sido inventado agora.

É abril quando a vida pulsa aqui, não lá fora.

Abril começa quando o sol se cansa de ser calor e se permite ser só luz.

E termina quando é preciso fechar a janela para dormir, quando é preciso fechar os olhos para sonhar, quando o corpo já não se aquece por si.

Após cada chuva de março o céu já se pinta de abril.
E é ainda abril quando, em maio, cada hora inventa outro azul.

Por isso abril é o mais cruel dos meses – pode durar um instante, pode nunca existir.
“Germina lilases da terra morta, mistura memória e desejo.”

Abril dura tanto quanto uma paixão.

Pode começar no Carnaval e morrer na quarta-feira, ou se estender até São João.

Ou durar a vida inteira – por que não?

https://www.facebook.com/eduardo affonso

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