segunda-feira, 30 de setembro de 2013
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Lançamento do livro
Em seu novo livro - No fundo do Poço não tem Moda - a escritora (na foto com o escritor Manoel de Barros), – questiona a vida e o viver e exorciza as suas dores. Na crônica Perdas e Rimas, assim escreve
Eu perdi um vestido. Minha mãe. Perdi amores. Alguns amigos. Perdi uma jaqueta de couro. A camisola do dia. Outra de renda, verde-água. Perdi uma bolsa de marca. Vários lençóis de puro algodão. Perdi avião. Um colar de ouro, uma pulseira de safira. Perdi peso. Apetite. Perdi o avô, a avó, vários tios. Perdi um bebê. Vários arquivos de computador. Perdi dois manuscritos. Uma festa importante. Meu aniversário em 1989. Perdi o gosto. O sono, a pose, o jeito. Perdi o “Livro das Ignorãças” – edição especial.
Perdi a vez. A paciência. Perdi a oportunidade de calar, de falar. De dar adeus. Perdi a conta. A vontade. Perdi o desejo de ficar, de partir, de estar. Perdi primaveras, outonos, invernos. Odeio verões. Perdi a chamada, a chave, os diários do colégio. Perdi a inocência, a vaidade, o orgulho. Enlouqueci. Perdi o senso, o humor, a piada, o estilo. Perdi o filme, o ônibus, a aula, o acordeom. Perdi o tom, uns pares de meias, alguns batons, a blusa de plumas. Perdi os pés, o salto, a máscara.
Perdi uma caixa de fotos. Três casamentos. Perdi duas alianças. Outros amigos. Perdi a infância, adolescência. Perdi a virgindade. A fé. Perdi um par de sapatos vermelhos que comprei em Paris. Perdi uma gata, a Bibi. Perdi endereços. Telefones. Perdi a esperança. Os sonhos. A libido. Perdi palavras. Horas. Perdi o tempo. Dois relógios. Perdi o bonde. A coragem. A história. Me perdi.
Tenho uma via de perdas. Esquecimentos, desleixos. A matemática nunca foi meu forte. Faço contas de diminuir. Esqueci como se soma. Não sei multiplicar. Nem dividir. Mas, separo tudo. Os dias, as noites, os minutos, filmes, livros. Separo mechas de cabelo, as maçãs maduras, os vasos de flores, os temperos, os ovos. Sei cozinhar, lavar, passar, escrever e ler. Mas não sei viver.
Acordo querendo dormir. Durmo pensando em não acordar. Passo dia esperando a noite. Da semana só gosto de sábado. Domingo tem cheiro de solidão. Vivo como se fosse ontem. O hoje é meu amanhã. Não tenho presente. Só ilusões. Delas não me perco. Elas me anestesiam. Tenho medo da loucura. A vida é doida demais. Pode ser um quadro na parede. Mas como dói, já dizia Drummond.
Neste, sábado, 28 de outubro ela vai estar em Belo Horizonte para o lançamento do seu livro e além de rever a amiga eu vou buscar um abraço apertado e o meu livro autografado.
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