sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Estou doente?


Os primeiros sintomas apareceram de repente. Levei um susto e por um momento duvidei.

Mas outros sinais foram confirmando as suspeitas iniciais. Do quê falo? Da antecipação dos acontecimentos e datas comemorativas, da necessidade de criar um fato novo fantástico e que seja capaz de gerar necessidades e, como consequência, novos desejos e compras.

O dia de hoje já nasce precocemente envelhecido e não se respeita mais a natureza, as estações do ano, o nascer e o por do sol e as necessidades de cada fase da vida de uma pessoa.

Em setembro já encontrei lojas vendendo produtos natalinos. As luzes piscavam e árvores enormes tocavam os tetos. Papai Noel, em todos os estilos e tamanhos, fazia companhia a enfeites diversos que vão enfeitar uma casa, da porta de entrada aos quartos.

Depois, alguém mostra no celular o filho – de 10 anos - dirigindo uma potente Cherokee. Não se usa mais brincar de peteca, pião, bolinha de gude? O carrinho não pode mais ser de plástico?

E por falar em crianças, sempre as encontro nos salões de beleza, usando a mesma cor de esmalte que a mãe traz nas unhas. As roupas provavelmente são compradas na mesma loja e fico sem saber ao certo se a pequena quer ser grande ou se a mãe insiste em não crescer.

Para finalizar Encontro a Fátima Bernardes que levou ao seu programa, em plena primavera, o tema Músicas de Verão. Na escola aprendemos que as estações do ano são definidas pela posição que a terra estabelece em função do sol. E vem o Equinócio e o Solstício dizendo que abaixo da linha do Equador teremos temperaturas exatamente opostas aos que estão no hemisfério norte. Algum problema se eu quero celebrar a primavera e seus encantos? Podemos respeitar as regras da natureza?

Como já passei da meia idade (uso vaga de estacionamento destinada aos idosos), sei que não posso percorrer o caminho que está à minha frente com muita pressa porque senão ele acaba logo. Quero poder respirar lentamente. Quero sentar no meu sofá e ler o jornal do dia. Quero consultar a Folhinha Mariana para saber a previsão do tempo porque “é mais fácil em galinha nascer dente do que ela falhar”! Quero o meu dia de 24 horas inteirinho, minuto a minuto pois se eu for seguir a agenda do mundo minha vida fica muito confusa.

Estou cuidando das flores da primavera. Eu ainda não preparei a minha casa para o Natal. Mas eles dizem que já devo ficar preocupada com o próximo verão. Eu tenho cura???

14 comentários:

Blog Livros e Ideias da Drica disse...

Estou doente também... kkkkkk simplesmente porque não me encaixo de forma alguma nessa correria do mundo, meu relógio biológico é normal!

chica disse...

Estou aqui a te aplaudir fortemente. Isso tudo eu sinto cada vez mais! Temos que ficar vendo as pessoas atropelarem infâncias,inventando modas e modismos idiotas. Não deixam as crianças serem crianças.Uma pena. E não digam que é normal,pois NÂO É!

Não respeitam calendários, datas, é tudo acelerado e puto comércio envolvido. Até quando? Acho que vou morrer sem ver o retorno à simplicidade! beijos,chica

Isa Maria disse...

concordo a 200€ consigo. Detesto ver em outubro à venda os bolos típicos do natal, bem como ver castanhas assadas em pleno verão. Um horror. É que depois, quando chega a época das coisas, já nós estamos fartos de as ver e/ou comer. beijinhos
isabel
também aqui
www.tretasnofeminino.blogspot.com

Leninha Brandão disse...

Minha querida Beatriz,
Concordo com você, amiga...por aqui em setembro já se houve "Já é Natal na Leader Magazine" e sempre eu fico apavorada com esta aflição de que o tempo passe voando...e a gente quer de volta a nossa casinha com vizinhos sentados no portão tricotando a vida lentamente...
Estou um pouco desaparecida por estar fazendo alguns exames médicos, viu?

Bjsssssss,
Leninha

mollymell disse...

Que texto mais verdadeiro Beatriz. Você está 'me saindo' uma escritora de 'mão cheia'. (será q se eu traduzir essa frase para o inglês para o meu marido, vai fazer sentido?!?!?!)

Brincadeirinhas a parte, eu concordo com você. Acho um horro ver enfeites de Natal em lojas em pleno outubro. Criancas em salão de beleza fazendo as unhas e muitas vezes o cabelo. parece que o mundo ocidental ficou meio maluco e superficial onde a mídia e o poder do $$$ controlam o resto da sociedade. Triste isso.

Débora R. disse...

Belo texto, tenho metade da sua idade e sinto a mesma coisa, mas hboje não se respeita nada...não sei onde vamos parar.E dizem que o mundo vai acabar, eu acho que ele está acabando aos poucos.Ah, o que é folhinha Mariana??Abraços.

Tina Bau Couto disse...

Maravilhoso post!
Esse é o diagnóstico da realidade cada vez mais lamentável a nos cercar.
Mãe que são crianças, filhos que são adultos, trocas de papel, rifa das responsabilidades, confusão entre deveres e direitos.
As vezes me pergunto:
Tá todo mundo louco?
Eu perdi alguma parte do filme?
Nasci fora do meu tempo?
Me falta modernidade ou me sobra senso de valores e bom senso?
Vou ao mercado com o dinheiro inteiro, o único que tenho, e a caixa diz essa expressão (perdão pela reprodução): É foda!...Oi?, não entendi querida?, foi o máximo que consegui e dizer para chamar ela para realidade. Não! não levei ct de débito, crédito, alimentação, nem kit de bolsinhas com moedas e dinheiro de td tipo e nem mesmo celular para pedir que alguém me levasse trocado e tive a sensação de ser uma ET, não são os estabelecimentos que tem que ter troco, somos nós? Como assim? Ninguém me avisou.
Estarei doente também?
Ou é o mundo cara amiga que está em estado grave?
Não nos contaminemos, sejas as últimas das moicanas, mas não deixemos de nos chocar.

Tina Bau Couto disse...

Vou divulgar esse seu post por e-mail em busca de pessoas sãs ou para cura de doentes.

Anônimo disse...

Beatriz, também estou doente, ou estão tentando me convencer de estar precisando de uma rápida internação para tratamento. Infelizmente ninguém conseguiu me dizer o nome da doença que me obriga a ter pressa para tudo, usar e abusar de coisas urgentes e compactar a minha existencia para poder render mais e viver menos, rs...rs.
Adorei a sua postagem. Nada como ter a felicidade de saber que ainda existe pelo menos uma pessoa normal: VOCÊ.
Beijos
Manoel

Jussara Neves Rezende disse...

O mundo é que está doente, Beatriz, e sem querer vamos sendo obrigados a entrar na roda. Empurrados mesmo. Deve ser por isso que não gosto das festas de fim de ano, pois o apelo consumista se torna maior e as pessoas andam pelas ruas meio aloucadas, sem saber bem o porquê de precisarem de tantas coisas que dizem ser necessárias. Procuro andar na contramão por não concordar com a barbárie e por birra memsmo: a cada dia saio menos de casa, a cada dia preciso de menos coisas, a cada dia meus livros e flores se tornam mais preciosos.
Grande abraço,
Jussara

Myrian disse...

Olá Beatriz,
Foi a Tina que me recomendou ler sua postagem e sou grata a ela por isso.
Concordo com você! Parece que está todo mundo louco!
É tanta pressa, é tanta pressão, que no fim a gente fica desestimulada, cansada, e pensa que não pertence mais a esse mundo, louco e consumista.
Beijo carinhoso para você.

Ana Paula disse...

Claro que tem cura, daquelas trabalhosas de quem tem que remar contra a maré. De quem vai montar a árvore só em dezembro e vai lembrar de comprar uma peteca para presentear.
Pés plantados no presente, nas estações definidas, na criança criança. Um caminho na contramão, mas que sim, é possível.
Lindo post!
Beijo
ladodeforadocoracao.blogspot.com

Mariana Simioni disse...

Nossa, você escreve maravilhosamente bem! Estou encantada com suas ideias e a forma como coloca ela nesses textos lindos. Você tem toda a razão, amei. Estou seguindo, vou futricar um pouco mais para ver se encontro mais textos desses, que são um presente. Beijos!

ONG ALERTA disse...

Adorei tua definição acho que esta doença virou epidemia...
Beijo Lisette.