quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O que realmente importa?

As imagens do furacão Sandy e as consequências da tragédia inundaram as telas da TV e do computador. 

O repórter, diante de uma casa destruída, pergunta à moradora: O quê de mais importante você perdeu?

- Meu caderno de anotações, responde uma mulher que traz no olhar todas as dúvidas de quem não sabe ainda como recomeçar.

Fiquei a pensar (mineiro gosta de matutar, refletir) sobre o conteúdo deste caderno.

Ele era o bem mais significativo e importante. Nenhum móvel, eletrodoméstico, joias ou objetos perdidos tinham mais importância do que ele.

É como se o seu conteúdo guardasse todas as informações essenciais para definir os novos caminhos.

Teria ele os endereços das residências, e-mail´s e telefones dos amigos e parentes? Senhas para o acesso de contas? Receitas de família? Datas de aniversários e casamentos? A agenda dos próximos compromissos? A lista de compras semanais? Uma relação dos compromissos financeiros? Colagem dos desenhos das crianças? Um diário de sua vida?

Aos poucos as perdas materiais podem ser substituídas porque tudo o que se pode pagar com dinheiro é muito barato. Sempre.

Mas quando temos que usar outras moedas como pagamento este recomeçar é difícil, dói muito e nunca será exatamente como antes. É preciso aprender a viver em um novo cenário. Criar intimidade com os cheiros, cores e texturas que vão estar ao seu redor. Desenhar novos mapas. E não permitir que a falta do que já não existe mais se transforme em um novo furacão.

7 comentários:

chica disse...

Ter sensibilidade até pra recomeçar, pouco a pouco. Incrível esse depoimento! beijos,chica

apessoa disse...

O nosso Portugal tem escapado a (quase) tudo o que é tragédia e às vezes acho que nem temos noção do bem que temos

Tina Bau Couto disse...

Terrível e incompreensível para mtos o que ela disse, o sentimento dela na verdade.
Eu sempre penso essas maluquices, o que salvaria por exemplo e te digo eu salvaria meus álbuns de fotos, agendas e recordações da infância de meu filho.
Qto a erguer-se e recomeçar é o que tem que ser feito, mas sentir e viver a perda tb é bom, é humano e fortalece a virada.

Raísa disse...

Tia, lindo seu texto!
Também vi essa reportagem e fiquei pensando no significado do caderno...

Beijos,
Raísa

simplesmentefascinante disse...

Bom dia Beatriz,
fiquei lendo e pensando....e meu pensamento foi pra minha caixa de cartões e bilhetinhos que ganhei e guardo ao longo do tempo...seria uma perda que dinheiro nenhum iria repor...que tesouro o caderno encerrava?????O jeito é recomeçar outras caixas e outros cadernos e seguir em frente. Dói? Demais! Mas......
bjão e que nossa quinta seja de agradecimentos por conservarmos nossos tesouros.
Mari

mollymell disse...

A resiliência do ser humano, a vontade e a força para continuar... ter tudo destruído e ainda assim recomeçar... muita tristeza, muita dor, muita perda.
Fico imaginando como as pessoas q perderam tudo de material estão vivendo agora. Ontem tivemos uma tempestade de neve, muito frio, zero grau. Tudo branco e silencioso lá fora.

Jussara Neves Rezende disse...

Que ótimo texto, Beatriz! Eu tenho um caderno onde anoto contas a pagar, endereços, trechos de livros, ideias para novos escritos. Acaba um caderno, começo outro. Se eu perdesse o caderno em uso eu me sentiria muito perdida.