quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Doida ou doída?


Acordo com uma dor no peito. Alguns minutos para perceber que os músculos estão tensos. Culpa do vento que ao encontrar as frestas das venezianas das janelas invade todos os cantos. O som do vento do inverno aumenta a sensação de frio.

Relembro Adélia Prado “Minha alma é um bolso onde guardo as minhas memórias vivas. Memórias vivas são aquelas que continuam presente no corpo. Uma vez lembradas, o corpo ri, chora, comove-se, dança. O que a memória amou fica eterno”.

Quando criança eu escrevia o meu nome nos vidros embaçados.

Hoje a brincadeira não me atrai porque a manhã fria traz uma sensação de solidão. E a lembrança de que as coisas boas ficaram no passado.

O mundo ficou pior. As notícias do dia falam de violência. Contra crianças e idosos. Violência psicológica, física. Exploração do trabalho infantil. Fica sem explicação o assassinato de várias mulheres. Abuso sexual de menores.

Um novo escândalo de corrupção. Assaltos, comércio de drogas. O pai que abandona o filho, preso às ferragens do carro, após um acidente.

Fico assustada com o novo modelo de família mostrado em novelas e seriados como se esta fosse a nossa realidade. Me recuso a assistir algo que se chama Boogie Oogie, que eu nem sei o que significa. Como me recuso a participar de discussões cujo tema é “vai ter ou não vai ter beijo gay?”

E penso em fugir desta dura realidade. Quero ter o meu pedacinho de chão na Vila de Santa Fé. Quero dialogar com a fábula. Quero acreditar que o amor supera barreiras.

Lá, o cenário do inverno não traz a solidão. Quero recuperar a minha ingenuidade e acreditar que o vilão é capaz de se transformar.

Na Vila de Santa Fé acredito que serei capaz de cantar, que nenhuma palavra será vazia, que os sentimentos sempre serão verdadeiros. Nunca mais sorrisos frios, abraços forçados e saberei reconhecer a felicidade em cada canto.

Será que fiquei doida? Tudo bem, prefiro ser doida do que doída.

7 comentários:

chica disse...

Sem dúvida, muito melhor sermos doidas do que doídas! E saber fazer com que não percamos as esperanças, não nos deixemos abater pelas notícias que nos rodeiam, é preciso!

O mundo tá feio, mas vamos tentar pelo menos , tentar, aproveitar e saber ver o outro lado dele. prefiro ficar com as belezas... bjs, tudo de bom,chica

Carmen disse...

Vc que sempre nos presenteia com imagens lindas, para o nosso dia nascer feliz, com certeza sabe o caminho da Vila de Santa Fé...o que acontece é que tem dias que estamos mais vulneráveis, vc não está doida nem doída, apenas mais sensível...
Bjs

Pandora disse...

Eu acho que estou com você. Em dias difíceis como os que estamos vivendo, um pouco de sonho não faz mal, alivia a alma, trás qualquer coisa de alento e esperança em dias melhores em mudanças. O vilão, ele é humano e como humano, quem sabe não pode se arrepender? O inverno é frio, mas a gente pode fazer uma fogueira néh?!? Eu não consegui ver "Meu pedacinho de chão" por conta do trabalho, mas também costumo combater meus bichos com fabulas de amor e esperança e acho isso bom... Também me recuso a acreditar que o mundo é só loucura e a discutir se na novela vai ter beijo gay.

Rovênia disse...

Não é fácil, não, amiga. Digo e repito que essa vida tem seus momentos de felicidade, mas não é plena. E, por isso, uma vida basta. Não dá para ser feliz plenamente com tanta tristeza em volta. Só os insensíveis não se contaminam. Tentamos propagar um pouco de riso, de fé, de solidariedade. Beijos! :)

Josa disse...

Você não está doida não. E se estiver somos muitos. Concordo plenamente com você. A hipocrisia reina nas mídias e dizer que não concorda ou não quer que algo aconteça na nossa família, pode ser considerado preconceito. Gostei quando falou na novela Pedacinho de Chão, fazia muuuuuuuuuuuuuuuuito tempo que não víamos um conto tão singelo na tv aberta. Vamos fazer a nossa parte e melhorar o nosso grande mundo. Beijosas.

Tina Bau Couto disse...

Somos doidas então!
Ser normal hoje virou algo surreal.

Fiquemos no nosso pedacinho de chão, fábulas, bom dias, boas tarde, boas noites, com licença, bons modos, meninos com meninas e vice-versa, versos e paninhos bordados tão lindos do direito quanto do avesso.

Vania Lucia disse...

Sinto como se o mundo lá fora fosse a fantasia e o real está aqui dentro do meu coração, do meu pensar, do meu viver...
Me encolho as vezes e penso: Vai passar, eu sei que vai...
Vou ficar esperando porque eu espero de coração que tudo volte ao normal, ao meu normal... Será? Ou então fico doida com você.
Bjs